História dos Milagres do Rosário (V)

(continuação da parte IV)

Dá-se razão porque se compõem em forma de Diálogo.

Resta dar razão, porque escrevemos a história dos milagres de N. Senhora a modo de dia logo, a quem é um grande desejo que temos, de que manjar tão excelente saboroso se apresenta-se em um prato mais rico e agradável, que se pode se achar, com que aproveitássemos a todos, principalmente a gente do povo, qual é o dos Diálogos, nos quais umas pessoas perguntam, e outras respondem, e deste estilo usou o Espírito Santo, como diz Origines, e comummente os santos, no livros dos cantares, no qual introduz as pessoas de Esposo e Esposa, para debaixo destas figuras declarar o imenso amor que Cristo nosso Deus como esposo, teve a sua mui amada esposa a Igreja. E o muito que ela o ama: e entendendo bem Platão a eficácia: e força , que tem este modo de ensinar, toda a doutrina que tratou, pôs em forma de Diálogo ... da divina, em que trata de Deus como da filosofia Metafísica, Ética, Política e Retórica, como sabem os que nela andam versados, e o notou bem Plutarco, dizendo, que eram semelhantes aos que os Gregos chamam Dramas, nos quais além das perguntas e respostas, também se representam alguma coisa, que seja mais acomodada para os meninos os terem na memória. E eram tão usados estes Diálogos de matérias pias, e devotas, que a Igreja convida aos Cristãos que os represente nas festas de N. Senhora. Ante thorum huius Virgines frequentate nobis dultie cantica Dramatis. É tão bem mui acomodado este modo de escrever Diálogos, para confutar má doutrina, como é a dos hereges, nos quais se fazem perguntas, e respostas das pessoas que se introduzem, com que aquela matéria, que se trata, fica muito mais clara. Deste modo de escrever se aproveitou Bardasanes Siro, como escreve Eusébio, no tempo de Marco Aurélio Antonino que crescendo em seu tempo muito as heresias de Marciano, e doutros, todas as confutou em doutíssimos Diálogos , os quais seus discípulo trasladarem de língua Siriaca, em Grega com mui grande proveito dos Fiéis, ainda que foi tão pouco ditoso, que levantando-se destas heresias caio em outras, ao qual compara Sto. Epifano a um não carregada de mui ricas mercadorias, que fez lastimoso naufrágio no porto. 

Por ser tão proveitoso , e fácil este género de compor, usaram dele quase todos os Santos, porque S. Jerónimo usa dele contra os Pelagianos, São Agostinho, S. Cirilo, S. Boaventura, e outros muitos Doutores, que os imitaram. E houve coisa mais conhecida nem trazida nas mãos, que os Diálogos de S. Gregório? Nos quais escreve os milagres do seu tempo com tão feliz sucesso , que os Gregos os trasladarem logo em sua língua, e Cesário Heisterbacinense o imitou, escrevendo (passante de 400 anos) também em Diálogo os de seu tempo, e outros gravíssimos Autores vendo todas estas comodidades que dizemos, escreveram suas obras em Diálogos, e porque uma das matérias que importa ser escrita em estilo muito fácil, e modo que logo se possa aprender, é a que trata da devação de nossa Senhora, na qual não se pretende outra coisa, senão que logo fique na memória, e se ponha em execução, levando diante tão grandes pilotos, como os que temos nomeado, escolhemos também este modo de compor. Pedimos com humildade ao Senhor, que costuma tomar as coisas baixas, e fracas, por instrumentos de suas grandes maravilhas, que seja servido de tomar esta nossa composição dos milagres, e devações da Santíssima Virgem, por instrumento, e por-lhe tão grande virtude, que todos os que lerem, senão forem seus devotos, se façam, e se o forem fiquem muito mais, ficando ele sempre glorificado nela que é Rainha de todos os Santos. 

(continuação, parte VI)

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