LIBERAL E PEDREIRO - CARACTERIZAÇÃO EM 1824 (III)

(continuação da II parte)


P – Se não fossem certas esperanças, que me dão os meus amigos, e companheiros, vindas do Grande Oriente do Brasil, aonde me asseguram haver um formidável partido a nosso favor, apoiado nos Bonifácios, Andrades, e outros muitos; se estes sucumbirem e os não puderem defender e sustentar, então de certo viro a casaca, e ponho vela latina para navegar por onde for o vento em bonança. Eu sou Egoísta, quero o meu cómodo e sossego, porque no gozo das felicidades deste mundo, como Poltrão e bom vivant, todas as Seitas me servem, e nada de remar contra a maré.


RNão duvido, que assim pensam todos os da vossa seita; nenhum quer ser mártir da sua Religião, nem sofrer incómodos por defender o seu partido, à maneira de Mafoma [Maomé] querem reformar os outros à força de Alfange, Punhal ou veneno; ora para odiar semelhante Seita bastaria pensar no juramento de crueldade, para ser odiada de toda a gente. Ah! Maldita Filantropia. Abominável fraternidade! Jurar de matar a seus irmãos, envenena-los, fomentar revoluções, promover a guerra civil, e a anarquia, tentar contra ao Trono e Altar, roubar e destruir, é Religião do diabo. São estes os bens que ela faz à humanidade! São os resultados de Nápoles, Turim, Piemonte! São os serviços que Murat fez em 1815, reconhecido chefe desta Seita em toda a Itália, é o que se manifestou e descobriu em 1819, é a recompensa que teve o Presidente dela Luís Porro Lambertanghi: é o que se presenciou em Alexandria, e Novara; o saque que se projectava das Tesourarias públicas, o levantamento projectado nas pronvíncias da Lombardia, os vossos sócios de França em 1821, Pechio, Vegoni, e Palluvicini, agentes de tudo. Em fim o partido conspirador de Genebra, com o nome de Congresso Italiano, à testa o seu Diácono Andriani, para execução dos mistérios mais horrorosos da maldita Seita, e tudo isto sentenciado em Verona, deixa alguma dúvida da existência das vossas maldades, e crimes? E ainda haverá quem diga que não há tal Seita, e que são invenções dos Realistas, e me podeis retrocar, que ela vos parece melhor e mais arrezoada do que a Religião Cristã? Dizei-me, que nos ensina o Evangelho por boca de S. João: meus filhos amai-vos uns aos outros; e pelo contrário a vossa é que: morram os Monarcas, os Sacerdotes, acabe a Religião de Christo, o Sacrifício, e o Altar. A nossa ensina a não fazer prejuízos, dar a Deus o que é de Deus, e a César o que lhe pertence; a vossa é riquezas, roubos, prazeres mundanos, e apetites sensuais. Nós adoramos a Jesus Cristo, porque ela faz o Bem aos homens, e porque fez muitos milagres para provar a sua Divindade; os vossos Deuses são uns desalmados, bem como as Divindades dos Pagãos. Saturno mutilou seu Pai; Júpiter destronou a seu Irmão incestuoso, e esposo adultero; Apolo foi famoso pelos seus amores impúdicos; eis-aqui os Santos, e Divindades da vossa Seita, pode alguém entrar em vossas Assembleias nocturnas, sem ter diante dos olhos as imagens dos crimes? O nosso Deus se tem feito conhecer pela sua mansidão, e beneficência; ele ordenou aos seus Apóstolos, que a prégassem publicamente por todo o Universo, e será culpa sua, se depois de o terdes reconhecido e jurado obedecer-lhe, abjurastes a sua Religião, para vos entregares às extravagâncias da pedreirada? A fé nos promete uma futura felicidade, na esperança dos seus gozos perfeitos, e nos ensina uma caridade ardente, para com todos os nossos semelhantes; isto é, amigos, inimigos, bons e maus, o perdão das injúrias, ainda mesmo aos da vossa reprovada Seita; se esta Religião é boa Filantropia amiga do homem, se seu Autor é Divino, Sábio Mestre, e nos ensina que fora dela não há salvação; que não podem haver muitas Religiões, pois há uma só, um Sacrifício, um Altar, e há um chefe visível, que é o Pontífice Romano, que como seu Delegado nos governa com as mesmas máximas, o mesmo Evangelho, e a mesma Doutrina, cuja posse imemorial de 18 séculos, lhe dá a primazia a todas, para que queremos reformas, e reformadores? Para que expôr a errar o caminho seguro da salvação eterna, que nos está prometida aos verdadeiros crentes; tendes que objectar a estas verdades, que respondeis? Para que teimar na Apostasia, ânimo, coragem, resolução...


P Ai de mim! Que me destes a última cutilada; ora deixai-me pensar alguns dias nessas vossas razões tão sólidas, e a que já não tenho que responder, e que por meio da Lógica me acho convencido; deixai-me lêr a Mr. de Bergier, o Arcebispo de Paris, e outros, e então me decidirei; que vergonha viver tão iludido, e enganado, sobe-me o rubor à face!!!


RNada de vergonha, anda de medo, e nada de esperanças nos tafues da América, que hoje ouvi na Praça do Comércio aos Ingleses, que por Navios seus constava já que o Senhor D. Pedro quis imitar seu Augusto Pai, desfazendo as Côrtes, prendendo os facciosos Bonifácios, e outros tais, e reassumindo a si todo o Governo e poder que lhe compete. Já sôa uma grande trovoada de longe, e penso que dará muito de si, os da Santa Aliança não dormem, os vossos confrades vi-os hoje pálidos e carrançudos, faltos de esperanças e de alento, muito mais pela notícia que receberam de Lisboa pela Augusta e Majestosa Cena da Investidura das ordens de Santo André, com que o Imperador da Rússia, Alexandre, o Grande, condecora ao nosso Monarca o Senhor D. João VI, e a seu Augusto filho o Senhor Infante D. Miguel, cuja cerimónia se fez com a maior pompa no dia Segunda feira 16 de Fevereiro de 1824, pelo Barão de Strogonoff encarregado desta Missão pelo Imperador de todas as Rússias. Então que me diz a esta, Sr. Doutor da falsa Seita, ainda terá medo? Olhe que a amizade entre o nosso Rei, e aquele que tem 800.000 homens para sustentar os Direitos dos Monarcas, e dar cabo de quantos Pedreiros na Europa, Índia, e América. Como ele vai com a Religião, e com a verdade há de vencer tudo, como venceu a Bonaparte.


P Sr. Realista, confesso-lhe que este último balázio me acabrunhou mais do que todos os seus argumentos, foi a mais mortal estocada que me podia dar, estou mortalmente ferido, e já sem esperanças algumas de reviver.


RPois que, não sabe que a causa é de Deus, e que protegida por Ele, não deixa de ir avante? Que as portas do Inferno nunca podem prevalecer contra a sua Igreja, e que Ele lhe prometeu a sua assistência até à consumação dos Séculos? E que para os seus fins se serve de braços fracos para conseguir grandes resultados? Desista dos seus erros, entre na estrada segura, eu estou firma na fé e segundo nas promessas de Jesus Cristo, que não podem faltar; brevemente espero o seu desengano, e que dirá comigo, e com todos os bons Cristãos em altas vozes, e de todo o seu coração: Viva a Santa Religião Católica Apostólica Romana, sempre triunfante de seus inimigos! Viva o Senhor D. João VI, nosso Bom Monarca, e toda a sua Real Dinastia! Vivam seus Augustos Filhos! E vivam todos os verdadeiros, e honrados Portugueses, a quem não desampara Deus com as suas luzes, e senão acham contaminados com o erro e desvario de um reprovada Seita! Vivam, Vivam!!!


FIM.(voltar à I parte)

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