O Santo do Dia - São Silvestre I (31 de Dezembro)

(ver anterior, dia 29)

São Silvestre I
(31 de Dezembro)
Papa e Confessor
(comemoração - paramentos brancos)

Papa S. Silvestre I, baptiza o Imperador Constantino
A seguir à paz de Constantino, que deu a liberdade à Igreja (313) o Papa Silvestre governou-a durante mais de 20 anos (314 - 335).
A organização do culto nas primeiras basílicas romanas, o primeiro Concílio Ecuménico de Niceia, em que se condenou a heresia de Ario, são os acontecimentos mais notáveis do pontificado que inaugurou condições de vida nova para a Igreja.

(continuação, dia 5 de Janeiro)

O Santo do Dia - São Tomás de Cantuária (29 de Dezembro)

(ver anterior, dia 28)

São Tomás de Cantuária
(29 de Dezembro)
Bispo e Mártir
(comemoração - paramentos vermelhos)

Nascido em Londres em 1117, Tomás Becket fez os estudos universitários em Paris, recebeu ordens sacras, e depressa se tornou personagem influente entre o clero da Inglaterra. Nomeado Arcebispo de Cantuária, em 1162, viu-se obrigado a defender a liberdade da Igreja contra os abusos de Henrique II, a quem, anteriormente, servira durante 8 anos com a maior dedicação como chanceler. Esta atitude custou-lhe a vida. Foi assassinado na catedral, por agentes do rei, no dia 29 de Dezembro de 1170. Quando se trata da defesa dos direitos de Deus, é preciso resistir, cara a cara, e com a maior energia, a todos  os que procuram avassalar a Igreja, embora, por outras razões, os tenhamos de servir. A Igreja venera na pessoa de S. Tomás Becket um grande Bispo; aplicando-lhe o Evangelho do Bom Pastor, glorifica nele o verdadeiro pastor do rebanho de Cristo que dá a vida pelas suas ovelhas.
(continuação, dia 31)

O Santo do Dia - Santos Inocentes (28 de Dezembro)

(ver anterior, dia 27)

Santos Inocentes
(28 de Dezembro)
Mártires
Estação em S. Paulo Extramuros
(festa de 2ª classe - paramentos vermelhos)

Nesta oitava do Natal, a Igreja imortaliza a memória das criancinhas das cercanias de Belém, massacradas por Herodes. Imoladas à impiedade do monarca, estas vidas inocentes são um testemunho de Cristo, perseguido, desde o berço pelo mundo que O não quer receber. É já o próprio Cristo que está em causa na carnificina daquelas crianças. É já a opção por ou contra Ele que entra em jogo. Mas a perseguição será impotente, perante a obra da Salvação, que Jesus veio realizar e nada poderá impedir. 
Virá a cair, um dia, nas mãos dos adversários, mas só na hora marcada por Deus e para resgatar o mundo com o próprio sangue. 



(continuação, dia 29)

O Santo do Dia - São João Apóstolo (27 de Dezembro)

(ver anterior, dia 26)

São João Apóstolo
(27 de Dezembro)
Apóstolo e Evangelista
Estação em Santa Maria Maior
(festa de 2ª classe - paramentos brancos)

S. João, o Evangelista por excelência da divindade de Jesus, foi, com muito acerto, colocado à beira do presépio para nos cantar as grandezas recônditas do Menino-Deus. Autor do quarto Evangelho, de três epístolas e do Apocalipse, as suas páginas sobre a preexistência do Verbo, tornado, pela Encarnação, luz do mundo e vida das almas, são das mais notáveis e mais belas do Novo Testamento. Valeram-lhe, entre os gregos, o título de Teólogo, e a liturgia latina escolhe, para intróito da sua Missa, oda missa dos Doutores. Na iconografia cristã é simbolizado pela águia, de olhos penetrantes, que paira acima dos mais altos cumes.

Predilecto do Senhor, João cognominou-se a si próprio, no seu Evangelho o discípulo que Jesus amava. Foi, com Tiago, seu irmão, e Simão Pedro, uma das três testemunhas da Transfiguração; encontramo-lo, na Ceia, a reclinar a cabeça no peito do Mestre, e no Calvário, onde Jesus lhe confia sua Mãe. Foi o único dos Apóstolos que não morreu martirizado, vindo a falecer em Éfeso, carregado de anos. Julga-se que passou os últimos anos a reger as igrejas da Ásia menor. 


(continuação, dia 28)

O Santo do Dia - Santo Estêvão (26 de Dezembro)

(ver anterior, dia 21)

Santo Estêvão
(26 de Dezembro)
Protomártir 
Estação em Santo Estêvão, no Monte Célio
(2ª classe - paramentos vermelhos)

Lapidado em Jerusalém dois anos depois da morte de Jesus, o diácono Estêvão  foi sempre objecto de fervoroso culto. É o primeiro mártir. A narrativa dos Actos, que conta a prisão do santo e as acusações de que foi alvo, multiplica os pontos de contacto com o julgamento do Salvador: é lapidado fora dos muros de Jerusalém e, como o Mestre, morre a interceder pelos carrascos. 

Estêvão pertence ao grupo dos sete diáconos, que os Apóstolos se tinham agregado como coadjutor no ministério. "Cheio de Fé e do Espírito Santo, cheio de graça e de fortaleza" aparece-nos como homem de Deus irradiando graça e ardor invencível. Primeiro testemunho de Cristo, afronta os adversários com tranquila audácia e realiza-se, então, a promessa de Jesus Cristo (Marcos 13.11): "Armaram-se acesa discussão com ele, mas não conseguiram resistiram à sabedoria e ao Espírito que lhe inspirava a palavra." A liturgia salienta em Sto. Estêvão a imitação de Jesus, levada até ao dom total de si mesmo, até à caridade  sublime de, no meio dia imediato ao Natal, aproxima ainda mais o discípulo do Mestre e estende assim o testemunho do mártir a toda a missão do Messias redentor. O nome de Sto. Estêvão vem no cânon da Missa. 

(continuação, dia 27)

A INCREDULIDADE DE SÃO TOMÉ

"A incredulidade de Tomé foi mais proveitosa para a nossa Fé do que a Fé dos discípulos que acreditaram logo" (São Gregório Magno). No seguimento destas palavras, a respeito da festa de São Tomé (21 de Dezembro):

Meditação VIII.
Da ruína de Santo Tomé, e aparição, que o Senhor lhe fez, presentes os mais discípulos no oitavo dia de Sua ressurreição.

Primeiro Ponto

O encontro de Jesus com os Apóstolos
Neste ponto considerarei as causas da ruína deste discípulo. A primeira for, não estar com os mais discípulos, quando o Senhor lhes apareceu: Non erat cum eis, quando venit Iesus (Ioann 20. 24); não estava com os mais quando lhes apareceu o senhor, e porque não estava com os mais nesta ocasião, perdeu a visita do Senhor, com os bens que nela comunicou aos mais, e caiu em uma ruína tão fatal como a de sua incredulidade: tanto se perde muitas vezes, sem se perder uma ocasião, para a qual tem Deus determinado alguma sua visita, e santas inspirações: outras muitas vezes, e pouco antes havia estado Tomé com os mais [discípulos], e nesta em que faltou veio o Senhor visita-los, porque para esta tinha determinada esta sua aparição. Quantas vezes, por faltarmos a uma prática, a uma conferência, a uma lição espiritual, a uma hora de Oração, ou a outro exercício santo perderemos uma visita de Deus nosso Senhor, um santo documento, ou uma santa inspiração, que o Senhor nos teria determinado para qualquer destas ocasiões, ou exercícios? Tirarem os daqui, regatear muito qualquer falta nos lugares pios, e santos exercícios, que neles se fazem, a que costumo ir por obrigação, ou devoção, porque por alguma destas faltas poderei perder alguma visita, ou inspiração, que Deus Senhor nosso terá determinado dar-me em qualquer destes exercícios, de que penda o meu aproveitamento espiritual, ou da falta dela a minha ruína, e ainda a salvação, ou condenação da minha alma; como se viu em Santo Tomé, que perde a visita do Senhor,e caiu na incredulidade, por não estar com os mais, na ocasião, em que o Senhor lhes apareceu: Non erta cum eis, quando venit Iesus.

A segunda causa da ruína desta discípulo foi, o amor de seu próprio juízo, e tenacidade em o seguir; porque dizendo-lhe os mais discípulos, que viram o Senhor ressuscitado: Vidimus Dominum (Ioann 20. 25), ele não só os não creu, mas se apartou do seu juízo, seguindo tenazmente o próprio; disseram os mais que viram, e porque viram creram, e Tomé julgou, e disse que não havia crer ainda que visse, só por ver, mas que além de ver, havia de palpar, e meter os dedos nas chagas, e a mão no lado, e que de putro modo não havia crer: Nisi videro in manibus ejus figuram clavorum, et mittam digitum meum in locum, clavorum, et mittam manum meam in latus ejus, non credam. No que se vê a grande tenacidade no seu juízo, pois quietando-se o juízo dos mais só com ver, para crer, o seu senão quietava, nem com o testemunho, e vista dos mais, nem ainda com a sua, mas só com ver, meter os dedos nas chagas, e a mão no lado; e esta tenacidade ao seu próprio juízo, o arruinou, como arruiná a muitos. A quantos arruinou, e arruína, seguir com tenacidade seu próprio juízo apartando-se do dos mais? E nasce isto do amor que tem ao seu juízo próprio; e como o mesmo amor que lhe tem, o cega, tem o seu por melhor que o dos outros; e um juízo cego do seu amor que há de fazer senão arruinar? A vontade de si é potência cega, e por isso lhe deu Deus o juízo por guia; e se o juízo também estiver cego, guiará um cego outro cego; e se hum cego guiar outro, como não hão-de dar ambos em quedas, e ruínas? Nunquid potest cacus cacum ducere? Nonne ambo in foveram cadunt? (Luc 6. 39) O juízo há-de cair em erros com tenacidade, e a vontade em pecados com obstinação. Neste miserável estado pôs a Tomé a tenacidade, e cegueira do seu juízo, e nele o teve por oito dias, e tivera mais, se a Misericórdia do Senhor lhe não acudira. Temamos pois muito a cegueira do nosso próprio juízo, não o sigamos com tenacidade, não continuemos e o seguir, só porque começamos a segui-lo, rendamo-lo ao dos outros, não sejamos singulares, especialmente nas matérias espirituais, e da salvação, pois vemos o miserável estado, e evidente perigo, em que pôs a Tomé a tenacidade do seu juízo.

A terceira causa da ruína de Tomé, ou mais propriamente da dilação do seu remédio, e dificuldade da sua conversão, foi querer-la ao seu modo, e traça-la à sua vontade, e eleição, e em resolução, querer ele eleger os meios, e traçar os modos da sua conversão. O Senhor é que havia de vir, ele não disse que o iria buscar, nem foi: que não só havia de ver, como os mais, mas ver, e palpar; e não só palpar exteriormente; mas meter os dedos nas chagas, e a mão no lado. E querer ao seu modo, eleição, e vontade a sua conversão, lhe dilatou tanto tempo, e ainda não fora, se o excessivo amor do Senhor o não buscara. Quantas conversões senão fazem porque quer a prudência, ou para melhor dizer a cegueira humana apontar o tempo, e eleger os modos, e meios delas? Dizem, que agora senão podem converter, e dar a Deus, que em outro tempo o farão, como se o tiveram certos; que a sua conversão há de ser deste, ou aquele modo, por este, ou aquele meio, como se estivera na sua mão esta escolha; e como isto, ou a dilação, ou a não fazem nunca; estes querem sarar da sua doença como Naamão da Síria da sua lepra, que mandando-lhe o Profeta Elizeo se fosse lavar nas águas do Jordão, ele queria que o Profeta viesse a ele, ena sua presença rogasse a Deus, e lhe tocasse com a sua mão o lugar da lepra, mas o profeta o não quis sarar como ele queria, mas como lhe havia mandado. Homem leproso como os teus pecados não queiras sarar a tua vontade, mas à de Deus, e de seus ministros. Vê o perigo em que esteve Naamão, de não sarar da sua lepra por querer a saúde à sua vontade; não queiras escolher à tua vontade o tempo, e meios da tua conversão, vê a dilatação, e perigos, que teve a de Tomé por esta causa; melhor o farás seguindo a Paulo, que não dilatou tempo, nem apontou os meios da sua conversão, mas tudo remeteu à disposição, e vontade de Deus: Domine, quid me vis facere? (Actor 9. 6) Senhor que quereis, que eu faça? E seguindo o que o Senhor lhe ordenou, logo se converteu. O seguro é o que fez Paulo, e não o que fez Tomé; não te fies do seu sucesso, que não está Deus obrigado fazer-te a ti, o que fez a ele, nem tu terás os merecimentos antecedentes que ele tinha, nem Deus te quererá para o que o queria a ele; se Deus te chama acode-lhe logo, e deixa a Deus o mais, e escaparás dos perigos em que esteve Tomé por dilatar o tempo, e  escolher os meios da sua conversão. 

Segundo Ponto

A Incredulidade de Tomé de Caravaggio
Durando Santo Tomé na sua incredulidade por oito dias, no oitavo lhe apareceu o Senhor presentes os mais discípulos, e teve esta aparição tantas finezas, quantas circunstâncias. Primeiramente apareceu agora outra vez aos mais por amor de Tomé, e do mesmo modo, que lhes havia aparecido dantes por amor de todos, e entrando às portas fechadas, pondo-se no meio deles, e dando-lhes a paz: Venit Iesus januis clausis, et stetit in medio, et dixit, Pax vobis (Ioann 20. 26), fazendo a respeito de Tomé, tudo o que havia feito pelos mais. E não é isto novidade no amor deste Senhor, que estima tanto uma alma, que faz e fará por uma o que por muitas, ou todas. O que fez, e padeceu no discurso de sua vida, em toda sua Paixão por todas, fizera, e padeceria por uma. Vê homem a estimação que deves fazer da tua alma; e o que deves fazer por ela. E se tens à tua conta as de outros, o que deves fazer pela tua, e por qualquer das de teus próximos,à imitação deste Senhor, que fez pela de Tomé o que fez pelas dos mais discípulos.

E não só fez pela de Tomé, o que fez pelas dos mais, mas ainda mais do que fez por eles; aos mais só lhes mostrou as chagas para que as vissem, e palpassem, como diz S. Lucas: Palpate, et videte, e a Tomé para que as visse, e palpasse, que metesse os dedos no lugar dos cravos, e a mão no lado; porque se bem o amor era igual para todos, em Tomé era maior a necessidade. Dissera ele, que se não visse as chagas, e metesse os dedos no lugar dos cravos, e a mão no lado, não havia de crer, e tudo isto que queria, lhe concedeu, porque não houve coisa, que não concedesse, e não fizesse por reduzir esta alma. E que não fará, ou deixará de fazer o amor de Jesus por reduzir uma alma? Vê pecador o que Deus faz por reduzir, e ganhar uma alma; e o que fez pela de Tomé, fará pela tua. Rende-te a este amor: cessa já da tua obstinação.

Contendeu aqui fortemente o amor de jesus com a obstinação de Tomé; a obstinação de Tomé a resistir, o amor de Jesus a instar, Tomé a cometer partidos para reduzir-se, Jesus a vir em todos para reduzi-lo; Tomé ateimando que senão há-de reduzir sem ver as chagas, meter os dedos no lugar dos cravos, e a mão no lado, Jesus vindo em tudo só para quue se reduza. Mete Tomé os dedos, e vê minhas chagas: Infer digitum tuum huc, et vide manus meas (Ioann 20. 27); mas também palpar, e eu te concedo palpar, e ver; mete estes dedos nestas chagas, faz dos dedos cravos para renovar-me outra vez as feridas, que por pelo estado glorioso já as não posso sentir, ao menos por ti as quero renovar; quem por ti as renova quando está glorioso, também por ti as padecerá se fora possível: mete a mão neste lado: Affer manum tuam, et mitte in latus meum; faz da mão lança para me ferires o coração, como o Soldado correu a lança com a mão para me abrir o peito. Oh se sararas da tua cegueira, metendo a mão, como ele sarou da sua, correndo a lança! Mete a mão, entra com ela neste lado, e vê que não permitindo à Madalena um toque, a ti o toque, e a entrada; mete a mão neste lado , e vê que permitindo ao discípulo a este coração, e verás como está enfermo, porque tu estás morto; mete a mão, vê se a palmos podes medir no coração os excessos de meu amor; mete bem a mão, vê se pode achar fundo a minhas misericórdias; mete a mão neste cofre de minhas riquezas, aproveita-te da ocasião, que quem te convida a meter a mão no cofre, já te permite o roubo, aqui podes roubar não menos que o coração de Deus. O que roubo! Mete finalmente a mão neste incêndio, para por ela se te comunicarem os ardores ao coração.

Não pode já Tomé resistir a tantos assaltos do amor, caiu por terra, e abrasado nas lavaredas, que se lhe comunicaram do incêndio do coração de Jesus, começou a bradar: Dominus meus, et Deus meus (Ioann 20. 28); Meu senhor e meu Deus; bem parecem estas finezas do meu senhor, e do meu Deus! Quem senão o meu Senhor, e o meu Deus podia fazer tantas finezas por reduzir um pecador? Aqui me tendes já rendido a vossos pés meu Senhor, e meu Deus; cantem os Anjos vossa victória; publique-se no mundo todo o vosso triunfo na minha conversão, e convertam-se todos a vós com o meu exemplo; cantarei eternamente as vossas misericórdias: Misercordias Domini in aeternum catabe (Psalm 88. 1).Publicarei ao mundo vosso Santo nome, até dar a vida nesta empresa; para quetodos vos adorem, e confessem por seu Senhor, e seu Deus, como eu já vos adoro, e confesso: Dominus meus, et Deus meus. Alma minha, chega-te a este mesmo incêndio, em qualquer sacrário o tens, e dentro em teu peito, quando comungas, e será lástima, não te abrasares, tendo o fogo no seio; arde em amor de Deus, e submergida no abismo do teu nada, e na imensidade do seu ser, o confessa com Tomé por teu Senhor, e teu Deus: Dominus meus, et Deus meus.

Resumo desta meditação

Primeiro Ponto

A primeira causa da ruína de Tomé foi, não estar com os mais discípulos, quando o Senhor lhes apareceu, e comunicou tantos bens espirituais: tanto vai em perder, ou não perder uma ocasião, ou exercício espiritual, para o qual terá Deus determinado comunicar-nos, ou dar-nos alguma santa inspiração.

A segunda causa da ruína deste discípulo foi a tenacidade, em seguir o seu próprio juízo, apartando-se do dos mais, não crendo a Ressurreição do Senhor, nem com o testemunho dos mais, nem se contentando como eles só com ver, mas com ver, e palpar: tanto dano costuma fazer a tenacidade no próprio juízo.

A terceira causa da ruína, ou mais propriamente da dilação do seu remédio, e dificuldade da sua conversão, foi querer-la ao seu modo, e pelos meios, que ele escolhia, vendo, palpando, metendo os dedos no lugar dos cravos, e a mão no lado; e é muitas vezes a causa de se dilatarem, ou não fazem muitas as suas conversões.


Segundo Ponto

Depois de oito dias apareceu o Senhor a S. Tomé, presentes os mais discípulos, e com as mesmas circunstâncias, e demonstrações, com que já dantes lhes havia aparecido, fazendo por Tomé tudo, o que fizera pelos mais: tanta é a estimação, que Deus faz de uma alma.

E ainda fez mais pela de Tomé, que pelas dos mais discípulos, aos mais só concedeu verem, e palparem as chagas, e a Tomé ver, palpar, e meter o dedos, e mão no interior delas, porque se bem o amor era igual para todos, em Tomé era maior a necessidade: e não haverá coisa que Deus não faça por reduzir uma alma.

Contendeu fortemente o amor do senhor com a obstinação de Tomé, e vindo em tudo o que Tomé queria, meter os dedos no lugar dos cravos, e a mão no lado, o rendeu. 

Rendido já Tomé aos afabos do amor de Jesus, caiu a seus pés, e abrasado em amor, o confessor por seu Senhor, e seu Deus. 

Retirado de Meditações da Sacratíssima Paixão e Morte de Cristo Senhor Nosso, composto pelo Venerável P. Bartolomeu de Quental em 1679.

O Santo do Dia - São Tomé (21 de Dezembro)

(ver anterior,dia 16)


São Tomé
(21 de Dezembro)
Apóstolo
(festa de 2ª classe - paramentos vermelhos)

S. Tomé, que foi por um momento discípulo incrédulo, tornou-se para a Igreja por essa mesma razão, uma das mais firmes colunas da Fé. E a Santa Igreja gosta de nos colocar nos lábios, com frequência, essas palavras tão simples e que tão profundamente exprimem a Fé e ardor do Apóstolo: "Meu Senhor e meu Deus". O Evangelho da Missa relata a aparição, em que o Senhor ordenou a Tomé Lhe tocasse nas chagas, na carne absolutamente real do Verbo Encarnado, morto e ressuscitado, e reconhecesse, com as próprias mãos da sua carne de homem o facto por cuja confirmação perante o mundo, os Apóstolos todos, sem excluir Tomé, deram a própria vida. Sabe-se que Tomé foi além das fronteiras do Império Romano, e pregou o Evangelho, provavelmente aos Persas e aos Índios [e Américas]. Recordemos hoje quanto devemos aos Apóstolos, o que S. Paulo, na epístola da Missa nos convidará a fazer: são os fundamentos e as colunas da Igreja cuja pedra angular é o próprio Filho de Deus. Devemos-lhes o privilégio de ser "concidadãos dos santos" e pertencer à "casa de Deus". [S. Tomé foi o Patriarca do qual se funda o que depois foi a Santa Igreja Patriarcal de Lisboa]

(continuação, dia 26)

Novena do Nascimento de Nosso Senhor

Novena
Para o Nascimento de Cristo Senhor Nosso, que começa a dezasseis do mês, na véspera da véspera da Expectação da Senhora, e acaba na de Natal

Nossa Senhora do Ó
Em todos estes dias será mais a oração quanto for possível, ainda que seja a poucos, e maior o recolhimento do dia na presença de Deus, repetindo as mais vezes que puder ser, as jaculatórias, e aspirações que poremos abaixo para cada dia; acompanhando a Virgem senhora nossa, e a São José nas jornadas de Nazaré a Belém, em que acharemos muita consolação na companhia.

Nestes dias se rezarão nove Padre-Nossos, e nove Avé-Marias de joelhos pela manhã, ou à noite, aos nove meses que Cristo Senhor Nosso andou no ventre da Virgem nossa Senhora, com uma jaculatória, ou aspiração no fim de cada um, ficando uma delas pela ordem dos dias para o exercício quotidiano de cada uma deles, na forma seguinte, à imitação da Igreja na reza destes dias, com as Antífonas dos Ós.

1º. dia: Padre-Nosso; Avé-Maria. Oh Sabedoria infinita, vinde já ao mundo ensinar-nos o caminho de vossa graça, e nossa Salvação!

2º. dia: P.N; A.M. Oh Poder infinito, vinde já ao mundo tirar-nos do cativeiro do demónio na fortaleza de vosso braço!

3º. dia: P.N; A.M. Oh Amor infinito, vinde já ao mundo desposar-vos com as almas de vossas criaturas!

4º. dia: P.N; A.M: Oh Luz infinita, vinde já ao mundo alumiar nossa cegueira para conhecermos o vosso amor!

5 º. dia: P.N; A.M: Oh Majestade infinita, vinde já ao mundo humilhar-vos ao nosso barro para nosso exemplo!

6º. dia: P.N; A.M: Oh Imensidade infinita, vinde já ao mundo nascer em uma lapa, para acabar os faustos, e vaidade deles!

7º. dia: P.N; A.M: Oh Riqueza infinita, vinde já ao mundo enfaixar-vos em pobres panos para cortar nossas demasias!

8º. dia: P.N; A.M: Oh Amor infinito, vinde já ao mundo unir-vos a nós vínculo tão estreito, que nunca mais se aparte!

9º. dia: P.N; A.M: Oh Deus infinito, e amoroso, nascei em minha alma, aonde achareis dureza de pedra, leviandade de palha, apetites de bruto.

Este é o exercício dos nove dias, nos quais jejuarão os que puderem, e os que não puderem jejuar, farão uma abstinência ao jantar [almoçar], ou à noite na quantidade, ou na qualidade; e os que jejuarem esta novena, devem começar o jejum alguns dias antes por quanto entre ela vem sempre algum Domingo, e às vezes dois, nos quais se não jejua conforme o estilo, e uso da Igreja.

Disciplina nos dias costumados, segundas, quartas e sextas, e os que puderem, todos os dias tomá-la-ão, mas só um Miserere rezado: terça, quinta, e véspera de Natal duas horas de cilício cada dia, e os que puderem o porão todos os dias duas horas: e os que não puderem fazes estas penitências , ou algumas delas, as trocarão no que lhes parecer, ou ordenar o seu Confessor. 

Comunhão sacramental dia de Nossa Senhora da Expectação, e dia de Natal; e dia de S. Tomé, Comunhão sacramental , ou espiritual: e nos últimos quatro dias da Novena, que são os de dia de São Tomé por diante, uma esmola cada dia, à honra das que a Senhora pediria nas quatro jornadas que fazem de Nazaré a Belém, e três no dia de Natal, uma a um menino, outra a uma mulher, e outra a um homem, à honra de Jesus, Maria, José. E quem tiver posses mandará dizer as noves Missas desta Novena tão célebre entre os devotos, e as três de dia de Natal.


Retirado de Meditações da Infância de Cristo Senhor Nosso, da Encarnação até os trinta anos de Sua Idade, composto pelo Venerável P. Bartolomeu de Quental em 1683.

O Santo do Dia - Santo Eusébio (16 de Dezembro)

(ver anterior, dia 13)


Santo Eusébio
(16 de Dezembro)
Bispo e Mártir
(festa de 3ª classe - paramentos vermelhos)

Nasceu na Sardenha no século IV, na época em que o arianismo se dava a maiores esforços no sentido de subverter o dogma da Divindade de Cristo. Elevado à cadeira episcopal de Vercelas, na Itália, secundou o Papa Libério  e o sucessor desde S. Dâmaso, cuja festa há pouco celebrámos, na luta empreendida por estes dois pontífices contra a heresia de Ario. Exposto a toda a sorte de ultrajes e condenado, por fim, ao exílio, regressou, ao cabo, à sua cidade episcopal onde morreu em 371. A Igreja tem-no como Mártir, tanto o santo Bispo sofreu na defesa da Fé. 




(continuação, dia 21)

O PADRE-NOSSO - A MODIFICAÇÃO INTRODUZIDA (II)

(continuação da I parte)

Sta. Teresa de Ávila, Doutora da Igreja

§ 2.º

Nós dizíamos, dissemos sempre: "perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nosso devedores".

Pretende-se agora que digamos: "perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido".

Ofensa dívida são sinónimos? Devedor ofensor são sinónimos?

Em primeiro lugar, não há sinónimos.

Toda a ofensa é dívida; mas nem toda a dívida é ofensa.

A ofensa implica propósito*, intenção de magoar; a dívida pode ser inocente.

Quando peço um livro emprestado, fico na obrigação ou dívida de o restituir; não há ofensa; se desconto uma letra num Banco, contraio a obrigação ou dívida de a resgatar; não há ofensa; se me confiam uma coisa para a dar a outrem, estou em dívida para com este, mas não há ofensa; como inquilino, devo a renda ao senhorio; enquanto lha não pago, dentro do prazo legar, não o ofendo. Se todos estes credores me perdoarem aquelas dívidas - não me perdoam as ofensas. Pedindo a Deus que nos perdoe as nossas dívidas, peço-lhe que nos perdoe tudo quanto fizemos, e não devíamos fazer, ou ou tudo quanto devíamos fazer, e não fizemos. Pedindo a Deus que nos perdoe as nossas ofensas, peço-lhe que nos perdoe aquilo que, com maldade intencional, lhe fizemos. 

Na dívida, inclui-se o que é ofensivo e o que o não é; na ofensa, há um quid que não caracteriza toda a dívida.

Na ofensa, há mais e há menos; e é muito difícil saber-se onde ela começa.

Na dívida, não há gradação qualitativa. A dívida é o que se deve, - seja pouco, seja muito, à superfície, ou em profundidade.

S. Tomás ensinava que o Padre-Nosso era a oração perfeita por excelência: "oratio dominica perfectíssima est" (Sum. Theologica, II.ª da II.ª, questão 83, art. 9.ª in. c. a.).

É pena que haja hesitações, quer em relação ao texto, quer em relação ao lugar em que foi formulada pelo Senhor. E mais de lastimar é que só em S. Mateus e em S. Lucas ela se encontre.

De que termos se serviu Jesus, ao ensinar-nos como devíamos rezar?

Ao que parece, Ele falava o aramaico. Mas o que nós possuímos é a versão grega das suas palavras.

Em que língua ou dialecto foi escrito o Evangelho segundo S. Mateus? É um problema. O que nós temos hoje não é o original, mas a versão em grego popular ou familiar.

Temos que reportar-nos a ela.

Essa oração excepcional, repito, não a reproduzem nem Marcos nem João. Em Marcos só há uma alusão muito vaga ao quinto pedido do Pater (XI, 25). Apenas Mateus e Lucas nos dão conta dela. Mateus, em texto que devemos considerar integral (VI. 9-13); Lucas, em texto que deve ser resumo (XI, 2-4). 

Substancialmente idêntica, num e noutro, a Igreja adoptou o texto de Mateus.

Ora o tradutor de S. Mateus emprega o termo opheilema opheilétes que designam, sem sombra de dúvida, dívida devedor.

Na parábola do Devedor (XVIII, 23-25), o tradutor de S. Mateus emprega sempre termos que dependem de opheilô

S. Lucas distingue: fala em pecado, hamartía; e em opheilonti, os que nos devem (XI, 4).

Quando S. Paulo nos ensina que a quem tem obras, o salário não se contra por favor, mas sim pelo que é devido, sempre o termo opheilema (Pros Romaioys, IV, 4); e quando nos manda dar a todos o que lhes é devido, diz: "apódote pasi tas opheilás" (idem, XIII, 7); e quando, logo a seguir, nos ordena que não devamos nada a ninguém, é opheilete que usa (idem, idem, 8).

Podia multiplicar os exemplos - mas estes bastam.

S. Mateus, através do tradutor, usa, para designar o pecado, a palavra hamartía - menos em dois lugares: no cap. VI, 15, onde emprega a expressão paraptôma.

Assim parece que entre o hamartía e a opheilema, há diferença de que se não pode prescindir. E a Vulgata, onde encontra o opheilema, traduz para debitum; e onde encontra hamartía, verte para peccatum.

Ora o latim não confunde debitum peccatum.

Segundo a Vulgata, o texto de S. Mateus é: "Et dimitte nobis debita nostra, sicut erat nos dimittimus debitoribus nostris".

Giovanni Diodati traduziu para italiano: "E rimettici i nostri debiti, come noi ancora rimettiano a nostri debitori".

Os italianos também distinguem; e tanto que na versão de S. Lucas, eles escrevem: "E rimettici i nostri peccati"

Os tradutores ingleses escrevem: "And forgive us our debts, as we forgive our debtors"; e do texto de S. Lucas dão esta versão: "And forgive us our sins"Debt sin são palavras diversas, de significado diverso.

Lutero traduziu o texto de S. Mateus: "Und vergib uns unsere Schulden, wie wir unsern Schuldigern vergeben".

Também ele distinguiu a dívida do pecado ou ofensa, porque diante do texto de S. Lucas, traduz: "Und vergib uns unsre Sünden".

É certo que, no alemão, a palavra Schuld tem um significado muito amplo - que vai desde a dívida ao pecado; mas não é menos certo que o termo Sünde tem um sentido restritivo: pecado, iniquidade, ofensa. E Lutero adoptando este, ao traduzir o texto de Lucas, cingiu-se ao significado próprio da palavra grega hamartía.

De Valera, o famoso tradutor castelhano, entendeu o texto de S. Mateus desta forma: "Y perdónanos nuestras deudas, como también nosotros perdonamos á nuestros deudores".

Igualmente para Cipriano de Valera, deuda pecado são palavras distintas a designar ideias distintas. E assim, do texto de Lucas, dá esta versão: "Y perdónanos nuestros pecados..."

A Bíblia do Urso, de 1569, no texto de S. Mateus, traduz: "y sueltanos nuestras deudas, como tambien nosotros soltamos á nuestros deudores".

Santa Teresa, no seu notável comentário, traduz o texto de S. Mateus: "Y perdónanos, señor, nuestras deudas, asi como nosotros las perdonamos a nuestros deudores" (Camino de perfección, cap. 36).

Tôrres Amat traduziu o  texto de S. Mateus: Y perdónanos nuestras deudas, asi como nosotros perdonamos a nustros deudores"; e o de S. Lucas: "Y perdónanos nuestros pecados...".

Em português, a versão mais antiga que conheço é da Regra de S. Bento, nos princípios do séc. XIV, se é que não é anterior: "...na qual dizem Senhor, perdoa a nos as nossas dividas, assi como nos perdoamos aos nosso deuedores, quer dizer, perdoa-nos os nossos desfalecimentos e errores assim como nos perdoamos aos que nos erraron." (Regra de S. Bento, cap. 31; edição de J. J. Nunes).
Segue-se a de João Claro [1] (sécs. XV - XVI): "...rogamos-te que nos perdoes as nossas dividas,s. nossos pecados, assi como nós perdoamos aos nossos devedores..." (in- Colecção de Inéditos portugueses dos sécs. XIV-XV, 1, pág.218).

João de Barros traduziu: "E perdoa-nos nossas diuidas, assi como nós perdoamos aos nossos devedores" (Cartinha, pág. 14, da edição de 1785).

Ferreira de Almeida que, como é sabido, fez tradução pessoal, deu assim o texto de S. Mateus: "E perdoa-nos nossas dívidas, assi como nós perdoamos a os nossos devedores" (edição de Londres, 1819). E o de S. Lucas: "E perdoa-nos nossos pecados...".

O Pe. António Pereira de Figueiredo traduziu o texto de S. Mateus: "E perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós também perdoamos aos nossos devedores" (edição de 1818, tomo VI, pág. 23). E o de S. Lucas: "E perdoa-nos os nossos pecados..." (idem, pág. 262).

E em francês?

Em francês, há variantes.

Pe. Garrigou-Lagrange O.P. grande referência para os estudos na FSSPX traduz "dívidas"

Louis Segond traduziu o texto de S. Mateus assim: "pardonne-nous nos offenses, comme nous aussi pardonnos à ceux qui nous ont offensés" .E o de S. Lucas: "pardonne-nous nos péchés, car nous aussi nous pardonnons à quiconque nous offense".

Mas o Pe. Crampon traduz de S. Mateus: "Remettez-nous nos dettes, comme nous remettons les leurs à ceux qui nous doivent".  E S. Lucas: "et remettez-nous nos offenses, car nous remettons nous-mêmes à tous ceux qui nous doivent".
O tradutor do Didaché: "Remets-nous notre dette comme nous remettons aussi la leur à nos debiteurs".

O Pe. Lagrange, O. P., um dos primeiros exegetas contemporâneos, traduziu o texto de S. Mateus, desta forma: "et remettez-nous nos dettes, comme nous-mêmes remettons à ceux quis nous doivent" (Évangile selon St. Matthieu, pág. 131; L'Évangile de Jésus Christ, pág. 321).

E ao de S. Lucas tradu-lo assim: "et remettez-nous nos péchés..." (Évangile selon Saint Luc, pág. 323).

D. Gaspar Lefebvre, quando fornece as orações da manhã, traduz o texto de S. Mateus: "Pardonnez-nous nos offenses, comme nous pardonnons à ceux qui nous ont offensés" (Missel quotidien et vespéral, pág. 44).

O Pe. Didon traduz o mesmo texto: "Remettez-nous nos dettes, comme nous remettons les leus à ceux quis nous doivent" (Jésus Christ, I, pág. 331).

O Pe. Pègues, o grande comentador de S. Tomás, dá, do texto de S. Mateus, duas versões: "Remettez-nous nos dettes, comme nous remettons les leurs à ceuz quis nous doivent" (Somme Théologique, II IIª, questão 83, artigo 16; IIIª, questão 84, art. 10; Suplemento, questão 99, artigo 5).
E "Pardonnez-nous nos offenses comme nous pardonnons à ceuz qui nous ont offensés" (Jésus Christ dans l'Évangile, I, pág. 35).

O Pe. Ferdinand Prat, S. J., alegando que "offense et dette sont synonimes", confessa no entanto, que "littéralement, il faudrait traduire: «Remettez-nous nos dettes, comme nous avons aussi remis à nos débiteus»" (Jésus Christ, I, pág.35).

O Pe. A. Tanquerey traduz: "pardonnez-nous nos péchés comme nous pardonnos à ceux qui nous ont offensés" (Précis de théologie ascétique et Mystique, §516).

O Pe. Lavergne, dominicano, traduz os dois textos, o de S. Mateus e o de S. Lucas: "et remettez-nous nos dettes comme (car, em S. Lucas) nous-mêmes remettons à ceux (à tous ceux, em S. Lucas) qui nous doivent" (Synopse des quatre évangiles, §160).

Não aceito sem reservas, a afirmação de que offense e dette sejam sinónimos; mas que o sejam, a tradução literal, na opinião do Padre Prat, devia dar-nos dette; e é evidente que as traduções literais são de preferir às traduções literárias.


[1] Não tomo em consideração a que Barbosa Machado atribui a um Zacarias de Paio Pele, em sua Biblioteca Lusitana, porque mesmo na hipótese de que os Dez mandamentos que son dictos moraaes e naturaaes fossem desse inidentificativo cisterciense, estávamos diante de uma tradução literária, mais interpretativa do que outra coisa, como homem pode ver na Colecção de Inéditos portugueses dos sécs. XIV e XV, pág. 142.
O Catecismo de D. Diogo Ortiz, tão gabado por Cenáculo, é posterior ao texto de Fr. João Claro. Presumo que a da Regra de S. Bento é, efectivamente, a versão mais antiga da matéria que me interessa.

[*nota fidelissimus: pode o leitor ficar confuso neste ponto porque o autor não especifica se a ofensa é em sentido geral. ou apenas a Deus, etc. . De qualquer forma, o desenvolvimento clarifica.]
 
(eis a continuação na III parte)

O Santo do Dia - Santa Luzia (13 de Dezembro)

(ver anterior, dia 11)

Santa Luzia
(13 de Dezembro)
Virgem e Mártir
(festa de 3ª classe - paramentos vermelhos)

Padroeira da Siracusa e da Sicília, é uma das santas mais populares na Itália. Só em Roma há nada menos de 20 igrejas com o seu nome.
A Igreja venera nesta jovem o duplo testemunho da virgindade e do martírio, quer dizer, a virtude no grau mais elevado, aliada à fidelidade mais heróica. Sta. Luzia sofreu o martírio pelos princípios do século IV. 



(continuação, dia 16)

O Santo do Dia - São Dâmaso (11 de Dezembro)

(ver anterior, dia 10)

São Dâmaso
(11 de Dezembro)
Papa e Confessor
(festa de 3ª classe - paramentos brancos)

Arquivista da Igreja de Roma, antes de suceder, em 366, ao Papa Libério, na cadeia Pontifical, continuou, depois de Pontífice a ocupar-se, com afnco, da História e do culto dos Mártires, e restam-nos ainda, nas catacumbas, numerosas epitáfios da sua lavra. Combateu as heresias do seu tempo, e, particularmente o Arianismo, e confiou ao génio São Jerónimo o cuidado de fixar o texto duma nova tradução latina da Sagrada Escritura. Morreu a 11 de Dezembro de 384. 



(continuação, dia 13)

O ERRO CHAMADO AMERICANISMO

Leão XIII
Manda a necessidade que publiquemos sobre o erro do Americanismo. A este respeito anda um resumo na Enciclopédia Luso Brasileira:

AMERICANSIMO - TEOL. Chamou-se A. ao movimento religioso de inspiração naturalista e liberal que surgiu em algumas dioceses dos E. U. A., em fins do séc. XIX. Este movimento, que tinha em vista facilita as conversões à Fé, mediante uma conciliação entre a tradicional doutrina católica e as novas aspirações da religiosidade moderna, excitou várias reacções e polémicas, sobretudo na França, tendo sido finalmente condenado por Leão XIII, com a sua carta Testem benevolentiae, de 22.1.1899. As boas intenções dos promotores das novas doutrinas foram claramente demonstradas pela sua pronta e incondicional submissão ao Papa.
Principais pontos de doutrinas condenados:
1) A Igreja deve adaptar-se às exigências modernas, mitigando as suas formulas tanto disciplinares como dogmáticas. 2) Deve favorecer-se o espírito de liberdade individual, em assuntos tanto de moral como de fé. 3) As verdades naturais devem preferir-se às sobrenaturais; as virtudes activas, às passivas. A direcção espiritual e os votos religiosos inconvenientes para o espírito moderno não são requeridos para a perfeição cristã.

O Santo do Dia - São Malquíades (10 de Dezembro)

(ver anterior, dia 8)

São Malquíades
(10 de Dezembro)
Papa e Mártir
(comemoração - paramentos vermelhos)

S. Malquíades, que tanto sofrera nas últimas perseguições, teve, antes de morrer, a dita de ver a paz restituída à Igreja pelo Édito de Milão, em 313. Morreu em 314.






(continuação, dia 11)

O Santo do Dia - Imaculada Conceição (8 de Dezembro)

(ver anterior, dia 7)


Imaculada Conceição da Santíssima Virgem
(8 de Dezembro)
Padroeira Principal de Portugal


(festa de 2º classe - paramentos brancos)

«Tota pulchra es. Toda formosa és, ó Maria, e não há em vós mácula original.» Este grito de espanto, que faz de portada ao ofício da Imaculada Conceição, corresponde bem aos sentimentos, que dominam a humanidade, ao ver-se presa da sordidez do mal, na presença da pureza irradiante da Virgem Santíssima. Decretara Deus, desde toda a eternidade, fazer de Maria a Mãe do Verbo Encarnado e, por essa razão, a revestiu com as galas da santidade e lhe tornou a alma morada digna para seu Filho. A redenção total, que desde a Conceição, preservava a Senhora do contágio do mal, não deve separar-se da nossa própria redenção operada por Jesus Cristo. Colocada no coração do Advento, a festa da Imaculada Conceição anuncia os esplendores da encarnação redentora. Instituiu-a Pio IX, depois da proclamação do dogma, em 8 de Dezembro de 1864, mas esta solenidade tinha já, na história da Igreja, mais de um precedente. 

Já no século VII se celebrou no Oriente a festa da Conceição da Virgem Santíssima e no século IX e XI vamos encontrá-la respectivamente na Irlanda e na Inglaterra. Estas festas antigas são a voz da Tradição a testemunhar, a respeito de Nossa Senhora, o culto ininterrupto da sua pureza imaculada, e Pio IX, definindo dogma a Imaculada Conceição, não fez mais que precisar, em termos teológicos, o que vinha sendo, através dos séculos, a Fé constante da Igreja. 


(continuação, dia 10)

O Santo do Dia - Santo Ambrósio (7 de Dezembro)

(ver anterior, dia 6)


Santo Ambrósio
(7 de Dezembro)
Bispo, Confessor e Doutor
(festa de 3ª classe - paramentos brancos)

Magistrado romano, Ambrósio governava Milão, quando o povo o escolheu para ocupar a cadeira episcopal da cidade. Como figura de grande prestígio que era, veio a desempenhar, no decurso do múnus episcopal, papel de extraordinário relevo. Foi conselheiro do Imperador, combateu energicamente a heresia, levou, com a firmeza esclarecida da sua grande calma, Teodósio a penitenciar-se, publicamente, do massacre de Tessalónica e, finalmente, como remate dum pontificado brilhante, conduziu ao seio da Igreja Sto. Agostinho, cuja doutrina havia de ser a fonte inesgotável de toda a cultura medieval. É com o seu convertido Sto. Agostinho, com S. Jerónimo e S. Gregório um dos quatro grandes Doutores da Igreja latina. Morreu a 4 de Abril de 397. A festa de hoje memora o aniversário da sua consagração episcopal. Foi autor de numerosos hinos litúrgicos e introduziu no Ocidente a recitação coral dos salmos. ´


(continuação, dia 8)

O Santo do Dia - São Nicolau (6 de Dezembro)

(ver anterior, dia 5)

São Nicolau
(6 de Dezembro)
Bispo e Confessor
(festa de 3ª classe - paramentos brancos)

A popularidade de S. Nicolau é quase tão extraordinária como a escassez de informes, com valor histórico, respeitantes à sua vida. 
Era bispo de Mira, na Ásia Menor, pelos princípios do século IV. O seu culto, que logo se espalhara no Oriente, atingiu sobretudo, a Europa Central, por 1087, quando lhe transladaram as relíquias à cidade italiana de Bári. Então se lhe consagraram numerosas igrejas, e a iconografia multiplicou-lhe as imagens. A lenda alterou, a prazer, a personalidade do Santo. Recordemos um dos mais famosos milagres que se lhe atribuem - o da ressurreição dos três meninos que um tasqueiro perverso sepultara na salgadeira; e também é bem não fique sem lembrança a bela tradição das terras do Norte, da visita que o Santo anualmente faz às crianças bem comportadas e dos presentes que nessa altura lhes dá. 


(continuação, dia 7)

O Santo do Dia - São Sabas (5 de Dezembro)

(ver anterior, dia 4)


São Sabas
(5 de Dezembro)
Abade
(comemoração - paramentos brancos)

Foi um dos principais criadores do monaquismo na Palestina e deu, com sua regra, impulso notável a toda a vida religiosa do Oriente. Fundou diversos mosteiros de que ficou célebre o que tomou o seu nome. Morreu em 532. O culto do Santo foi introduzido em Roma, no século seguinte, por monges orientais, que para ali fugiam à perseguição dos árabes. 



(continuação, dia 6)

O Santo do Dia - São Pedro Crisólogo (4 de Dezembro)

(ver anterior, dia 2)


São Pedro Crisólogo
(4 de Dezembro)
Bispo, Confessor e Doutor
(festa de 3ª classe - paramentos brancos)

Elevado à cadeira episcopal de Ravena, por volta de 433, em consequência duma aparição de S. Pedro ao Papa Xisto III (a oração da Missa alude ao milagre), S. Pedro Crisólogo foi um dos maiores prelados do século V. A eloquência rara, de que a natureza e a graça o dotaram, e a segurança doutrinal da sua pregação valeram-lhe o cognome de Crisólogo, que significa «palavra de oiro», e mereceram-lhe o título de Doutor da Igreja. Morreu em Imola, por 450.






No mesmo dia:
Santa Bárbara

(4 de Dezembro)
Virgem e Mártir
(comemoração - paramentos vermelhos)

Sta. Bárbara sofreu no Oriente o martírio, provavelmente pelos fins do século III ou princípios do IV. Quase nada sabemos desta mártir, mas é certo que o seu culto se divulgou amplamente através do mundo cristão. Invocam-na como padroeira dos artilheiros e mineiros, e é também advogada da boa morte. 




(continuação, dia 5)

O Santo do Dia - São Francisco Xavier (3 de Dezembro)

(ver anterior, dia 2)


São Francisco Xavier
(3 de Dezembro)
Confessor
(festa de 3ª classe - paramentos brancos)

A companhia de Jesus gloria-se, com razão, de contar entre os seus fundadores o maior apóstolo do século XVI. Companheiro de Sto. Inácio em Paris, foi por ele conquistado para a causa de Jesus Cristo e enviado ao Oriente, onde se tornou o grande missionário da Índia e do Japão. Ao longo das suas viagens apostólicas, multiplicava os milagres e arrastava consigo a alma daqueles povos.

Morreu em 1552, com 46 anos de idade, quando se preparava para entrar na China. Pio X declarou-o padroeiro das Missões. A todos os títulos, pois, a sua festa nos recorda os deveres do apostolado que nos incumbem, e é um convite instante a que secundemos, com nossas orações e esmolas, a obra missionária da Santa Igreja. 


(continuação, dia 4)

O Santo do Dia - Santa Bibiana (2 de Dezembro)

(ver anterior, 30 de Novembro)


Santa Bibiana
(2 de Dezembro)
Virgem e Mártir
(festa de 3ª classe - paramentos vermelhos)

Sta. Bibiana é com Sta. Inês uma das virgens mártires que na Igreja de Roma gozaram sempre de particular veneração. O Papa Simplício (468-483) consagrou-lhe no Aventino uma basílica que ainda hoje se conserva. 

(continuação, dia 3)

O Santo do Dia - Santo André Apóstolo (30 de Novembro)

(ver anterior, dia 29)

Santo André Apóstolo
(30 de Novembro)
Apóstolo
(festa de 2ª classe - paramentos vermelhos)

Como recorda o evangelho, foi Sto André o primeiro dos discípulos a conhecer o Mestre. Ao apelo do Senhor, deixou a barca e redes para O seguir e se tornar «pescador de homens». Quase nada sabemos da sua carreira apostólica. As antigas actas que nos falam do seu martírio referem que morreu cravado em dois poste cruzados naquela forma que a tradição habitualmente nos apresenta como a cruz de Sto. André. Essas velhas relações encerram textos de surpreendemente beleza sobre o amor da Cruz e a fidelidade ao Mestre Divino; deram jus ao Santo de ser, perante a piedade cristã, considerado o apóstolo por excelência da Cruz. O autor do ofício utilizou esses belos e velhos textos para a composição das antífonas de vésperas; e o Magnificat é de beleza excepcional.

Irmão de S. Pedro Apóstolo, é Sto. André um dos apóstolos de culto mais popular. Constantinopla, que lhe tinha as relíquias, servia-se do facto de ele haver sido dos primeiros a ser chamados, como argumento de primazia na sua estiolada contenda com Roma. Roma, no entanto, sempre tivera o Apóstolo em grande veneração. Possui dele duas célebres relíquias: um braço, conduzido de Constantinopla por S. Gregório Magno, e pelo santo colocado na igreja de Sto. André ao Monte Célio, e a cabeça, que Pio II depôs junto à Confissão de S. Pedro. O corpo de Sto. André venera-se na catedral de Amalfi.


(continuação, 2 de Dezembro)


O Santo do Dia - São Saturnino (29 de Novembro)

(ver anterior, dia 26)
São Saturnino
(29 de Novembro)
Mártir
(comemoração - paramentos vermelhos)

São Saturnino é um mártir romano da perseguição de Diocleciano, cerca de 303, originário de Cartago.

Quando no calendário se indica uma comemoração, diz-se Misa de féria : missa de domingo precedente (salvo depois da Oitava do Natal, entre a Epifania e a Sagrada Família; depois da Ascenção), sem Gloria (excepto no Tempo Pascal), nem Credo, com comemoração do santo e prefácio do Tempo ou prefácio comum. 
Pode dizer-se igualmente Missa do santo, com Gloria, sem comemoração na féria; prefácio próprio  ou comum. No Advento, a Missa só pode ser da féria.

(continuação, dia 30)

O Santo do Dia - São Silvestre (26 de Novembro)

(ver anterior, dia 25)


São Silvestre
(26 de Novembro)
Abade
(festa de 3ª classe - paramentos brancos)

Filho de um jurista, S. Silvestre tinha também estudado Direito em Bolonha antes de se tornar cónego em Osimo, sua cidade natal. Era um sacerdote zeloso e cheio de fervor. Resolveu retirar-se para a solidão ao ver o cadáver decomposto de um amigo. Viveu o primeiro como eremita em Grottaficule, depois no Monte Fano, onde os discípulos vieram até ele. Deu-lhes o hábito e a Regra de S. Bento, mas com costumes em que se reflectem as suas aspirações pessoais e as tendências da piedade do seu tempo. Morreu em 1267, aos 90 anos. 

(continuação, dia 29)

O Santo do Dia - Santa Catarina (25 de Novembro)

(ver anterior, dia 24)

Santa Catarina
(25 de Novembro)
Virgem e Mártir
(festa de 3ª classe - paramentos brancos)

Desde tempo imemoriais que Santa Catarina era venerada no mosteiro do monte Sinai, quando no século XV, os monges descobriram o seu corpo. A lenda, dizia que ela era uma jovem cristã de Alexandria que recusou as propostas do imperador Máximo Daia e confundiu um grupo de sábios reunidos para a levar a renegar a Fé. Seu corpo teria sido transportado para o monte Sinai pelos anjos. Os filósofos veneram Santa Catarina como padroeira. 

(continuação, dia 26)

O Santo do Dia - São João da Cruz (24 de Novembro)

(ver anterior, dia 23)

São João da Cruz
(24 de Novembro)
Confessor e Doutor
(festa de 3ª classe - paramentos brancos)

A Igreja festeja hoje, depois de Sta. Teresa (15 de Outubro), S. João da Cruz, que tanto a ajudou na reforma dos Carmelitas. Ele introduziu a primitiva observância no ramo masculino da Ordem, o que lhe valeu tenazes perseguições. Deu mostras de grande abnegação , foi penetrado do amor à Cruz e era uma grande alma de oração; seus escritos místicos deram-lhe o direito a ser considerado o doutor da vida contemplativa. Morreu em 1591. Pio XI proclamou-o  doutor da Igreja em 1926.


(continuação, dia 25)

O Santo do Dia - São Clemente I (23 de Novembro)

(ver anterior, dia 22)


São Clemente I
(23 de Novembro)
Papa e Mártir
(festa de 3ª classe - paramentos vermelhos)

S. Clemente, terceiro sucessor de S. Pedro, governou a Igreja desde 88, mais ou menos, até 97. Tem o nome citado no Cânon da Missa. A epístola da Missa de hoje confunde-o com outro Clemente, que ajudou S. Paulo. O Papa S. Clemente escreveu uma carta aos Coríntos, que é um dos mais antigos e mais preciosos documentos dos primeiros séculos; toda ela está penetrada de grande amor pela unidade cristã.

A basílica de S. Clemente, em Roma, é um edifício religioso extremamente interessante, porque representa fielmente a disposição antiga das basílicas cristãs; átrio, ambões, cancelas, altar voltado para o povo, separação bem marcada do clero, fiéis e catecúmenos. No altar-mor estão as relíquias de S. Clemente e de Sto. Inácio de Antioquia.

(continuação, dia 24)

O Santo do Dia - Santa Cecília (22 de Novembro)

(ver anterior, dia 21)

Santa Cecília
(22 de Novembro)
Virgem e Mártir
(festa de 3ª classe - paramentos brancos)

Sta. Cecília é uma das mais célebres e mais veneradas Mártires da Igreja Romana. Seu corpo, descoberto em 822, foi transferido para a Basílica titular de Santa Cecília no Transtevere. É difícil dizer dizer em que tempo viveu. A lenda que conta o martírio da Santa, do seu marido Valeriano e do cunhado Tibúrcio, refere os acontecimentos ao pontificado de Urbano I (222-230); mas nesta narrativa nada é seguro: nem as personagens que cita além de Cecília, nem a época do martírio.


(continuação, dia 23)